O RETORNO DA RAINHA

“O disco está cheio de recados para a concorrência e para ex-maridos e namorados. Mas também tem muita bobagem, refrões pegajosos e batidas capazes de animar qualquer festa. Exatamente como deve ser a boa música pop.”
Por Elenilson Nascimento
Já são quase 30 anos colocandocanções no topo da parada de música do mundo todo. Eu ainda lembro da primeira vez que eu ouvi“Everybody”, lá nos anos 80, enquanto todo mundo curtia outras coisas. E com esse novo disco,“MDNA”, o reinado continua, apesar de eu ainda não ter curtido muito esse novo trabalho. “MDNA” (*que sai oficialmente no dia 26/03, mas que eu já baixei todinho!) abarrotado de faixas dance, pop e demasiadamente adolescente tem conquistado a crítica, mas decepcionando fãs mais exigentes.
Madonna reaparece introspectiva e alegre o tempo todo no novo disco, mas com algumas letras reveladoras, mostrando que ainda tem cacife para ocupar o trono do pop por muito tempo. Antes desse décimo segundo álbum de estúdio ter caído na internet na última segunda-feira, 19/03, o que mais se ouvia sobre Madonna era que seu reinado estaria chegando ao fim. O disco anterior,“Hard Candy” (2008), estava muito aquém do que os fãs esperava. Além disso, nos últimos anos, várias candidatas a rainha do pop, como Kylie Minogue, Britney Spears, Rihanna, Lady Gaga Beyoncé, lançaram discos novos e avançaram alguns degraus no tabuleiro da música. Todas elas, ora alfinetando, ora derretendo-se em elogios e admitindo que, sim, se inspiram em Madonna.
Depois de rodar o mundo com a “Sticky & Sweet Tour”, que passou até pelo Brasil, Madonna deu um tempinho na música, como quem quisesse deixar suas candidatas a sucessora mostrarem o que podiam fazer. Mas, enquanto isso, lançou uma coletânea de hits, gravou um clipe (“Celebration”, ao lado do então namorado brasileiro Jesus Luz) e dirigiu seu segundo filme (“W.E. - O Romance do Século”, ainda em cartaz). Agora, com o lançamento de “MDNA”, Madonna volta à cena para mostrar quem é que manda nessa bagaça. Ou, pelo menos, que ainda tem gás para se reinventar e fazer um pop de qualidade.
O novo álbum de Madonna nas edições Deluxe – duplo com 17 faixas, 
e a Standard – com 12 faixas.
O disco abre com a interessante “Girl Gone Wild”, produzida por Benny Benassi. Logo na introdução, ela afirma que se arrepende dos pecados que cometeu e que quer ser boa. Mais adiante, porém, ela admite que não consegue se controlar. Adoro essas coisas! Na sequência, em “Gang Bang”, Madonna solta o verbo e esculhamba geral. Batida pulsante, voz nasalada, versos fortes e palavrões em profusão. E com tantos excessos cometidos por suas colegas de trabalho na busca pela fama e imortalidade pop, chega a ser discreta a polêmica que acompanha Madonna nesse seu novo disco. Ela surge apenas na abreviatura do nome da cantora no título (*sugestão da convidada, M.I.A.), criticado na Inglaterra por levar a uma associação com o MDMA, uma droga "prima" do ecstasy, que deu nome a essa sombria"Gang Bang", que de sexo grupal não tem nada. Mas na música, Madonna quase sussurra a letra sobre um amante que deve morrer por ela, enquanto se deixa cercar por uma minimalista batida techno e alguns efeitos sonoros (sirenes, barulhos de carros e, claro, tiros), numa subversão da clássica "Bang Bang", de Nancy Sinatra, usada na trilha do filme “Kill Bill”. No meio da música, uma quebrada transforma o ritmo, por alguns segundos, em dubstep, possivelmente numa tentativa de conectar a cantora de 53 anos com a nova geração de ravers americ anos, que curte Skrillex.
Em “I´m Addicted”, ela compara o amor a uma droga. No caso, o “MDNA”, um dos nomes pelos quais é conhecido o êxtase. Foi daí, aliás, que ela tirou a ideia do título do disco, trocando apenas uma letra e criando um anagrama com o seu próprio nome. "Turn Up The Radio” também tem potencial para virar hit, mas o ritmo do disco é quebrado quando entra a péssima “Give Me All Your Luvin´", com participação de Nicki Minaj e a já citada M.I.A., numa temática pop-teen-retardado, onde Madonna parece querer mostrar uma falsa juventude que não condiz mais com a sua maturidade de mulher e artista, mas que muitos gostaram por causa da sua performance no intervalo do Superbowl, mas destoa totalmente do resto do disco. É uma música descartável, tendo em vista o conjunto de “MDNA”. O mesmo se aplica à balada bonitinha “Masterpiece”, parte da trilha sonora de “W.E.” – que nem no filme toca – mas que entrou n disco só para ocupar espaço.
Outro ponto alto é “I Don´t Give A", na qual Nicki Minaj afirma que “só pode haver uma rainha e ela é Madonna”. A letra é uma das mais confessionais do disco. Fala sobre não ligar para o que as pessoas pensam dela, mas eu acho que seria uma indireta ao ex-marido, o cineastaGuy Ritchie. O que será que ele deve ter achado a música? A filha adolescente Lourdes Mariaparticipa como backing vocal (*alguém notou?) em "Superstar". Inevitável a comparação com“Hello”, sucesso do produtor da faixa, Martin Solveig. A menina já havia inspirado a mãe a compor “Little Star”, do excelente álbum “Ray Of Light”, em 1998. Mas numa prova de que busca referências na própria carreira – se as outras podem, por que não ela mesma? -, Madonna apresenta “I´m Sinner”. Soa como uma mistura de “Ray Of Light” com “Beatiful Stranger”. Se dizendo uma pecadora, em meio a um atmosfera oriental, ela evoca Maria, Jesus, São Cristóvão, São Sebastião e Santo Antônio. Estranho, mas interessante!
“Love Spent” começa com um banjo futurista. O clima oitentista evoca os grupos Erasure eLa Roux. Muito vagamente, remete a “Hung Up”, um dos maiores hits de Madonna. A versão simples do disco encerra com “Falling Free”, uma balada sombria como as que só William Orbit sabe produzir. Na versão dupla, haverá mais cinco músicas bônus, incluindo um remix dispensável de “Give Me All Your Luvin´” feito pela dupla LMFAO.
Nesta semana, o single de “Give All Your Luvin’” chegará ao topo da parada dance da Billboard, o que confirma um reinado inabalável. A cantora vai cravar seu 41º single no primeiro lugar do Dance/Club Play Songs da parada norte-americana – 22 singles a mais que a segunda colocada. Janet Jackson, que tem 19. A primeira música de Madonna a liderar a parada dance foi “Holiday”, em 1983. De lá para cá, foram nove singles no topo. Portanto, com a mais nova conquista, a loira conseguiu emplacar número 1 em quatro décadas!
Os telões da Time Square, em New York, se voltaram para Madonna
e seu novo vídeoclipe “Girl Gone Wild”.
EQUILÍBRIO – “MDNA” certamente não vai entrar para o hall dos melhores discos de Madonna, ao lado de “Like A Prayer” (1989), “Bedtimes Stories” (1994) e “Ray Of Light” (1998), mas a produção dividida entre William Orbit (parceiro em “Ray Of Light”), Benny Benassi e Martin Solveig deram ao trabalho o equilíbrio certo de introspecção e alegria que muitos adoram e em poucas ocasiões Madonna se abriu tanto nas letras. O disco está cheio de recados para a concorrência e para ex-maridos e namorados. Mas também tem muita bobagem, refrões pegajosos e batidas capazes de animar qualquer festa. Exatamente como deve ser a boa música pop.
No anúncio do lançamento de “MDNA”, muitos críticos questionaram: Madonna ainda é capaz de ditar tendência? Os primeiros sinais não foram muito reconfortantes: o primeiro single,“Gimme All Your Luvin’”, não teve o sucesso esperado e sua apresentação no intervalo do Super Bowl gerou muitas críticas. Até mesmos as fotos promocionais provocaram uma avalanche de comentários sobre a incapacidade da estrela em assumir sua idade. Mas as primeiras críticas de “MDNA” publicadas na imprensa são unânimes: MADONNA AINDA É A RAINHA DO POP!
Imagens lindas e polêmicas do novo vídeo de “Girl Gone Wild”.
POLÊMICA – E quase 30 anos depois de chegar pela primeira vez ao topo das paradas, Madonna mostra, como sempre, como se faz um trabalho pop, além de não deixar a polêmica de lado. Essa semana, Madonna prometeu desafiar uma lei recente contra a “propaganda homossexual” na cidade natal de Vladimir Putin, São Petersburgo, em sua próxima turnê pela Rússia. Chamando a legislação, que impõe multas para quem promover a homossexualidade entre menores, de “atrocidade ridícula” em sua página no Facebook, ela disse que iria resolver o problema durante o seu show. “Eu irei a São Petersburgo para falar pela comunidade gay, para apoiar a comunidade gay”, disse.
Sua turnê russa começa em agosto, meses após a abertura de sua academia particular em Moscou, cujo nome vem do álbum dela de 2008, “Hard Candy”. Para quem não sabe, o homossexualismo é punido com penas de prisão na União Soviética, só foi descriminalizado na Rússia em 1993, mas grande parte da comunidade homossexual continua escondida já que o preconceito é forte. A lei impõe uma multa de até 500.000 rublos (17.100 dólares) para quem espalhar o que a lei chama de “propaganda homossexual”, que poderia “prejudicar a saúde, desenvolvimento moral e espiritual do menor de idade”, definidos como menores de 18 anos.
Inúmeras tentativas de realizar protestos gays em Moscou, considerados ilegais pelas autoridades, acabaram em prisões e confrontos com vários cristãos ultra-ortodoxos que dizem que os homossexuais devem ser punidos ou tratados em hospitais por “doença”.
Em 2010, o Tribunal Europeu dos Direitos Humanos multou a Rússia por banir paradas homossexuais em Moscou, no que os ativistas dos direitos gays descreveram como uma vitória histórica. Em 2006, Madonna provocou protestos de ativistas da Igreja Ortodoxa Russaem uma visita a Moscou, quando ela cantou a linda “Live To Tell” em um crucifixo enquanto usava uma coroa de espinhos. Então, esperem coisas piores dessas autoridades retrogradas!
BOX ESPECIAL COM 11 DISCOS – Todos os álbuns de estúdio de Madonna chegam as lojas no mesmo dia do lançamento de “MDNA”. O box especial contendo todos os seus 11 álbuns da cantora, lançados entre 1983 e 2008, devem receber uma nova embalagem num lançamento intitulado “The Complete Studio Albums”. Será a primeira vez que todos os LPs da pop star, do autointitulado “Madonna” a “Hard Candy”, são reunidos em um único lançamento.
Madonna também começará a promover seu novo disco, com uma entrevista ao vivo, pela internet, com o comediante e apresentador de talk-show Jimmy Fallon. A conversa será no próximo sábado, 24/03, às 19 horas (horário de Brasília), no Facebook(http://www.facebook.com/madonna). A entrevista terá imagens dos ensaios da popstar para a próxima turnê. "MDNA" será lançado na segunda-feira. O single de lançamento, "Give Me All Your Luvin'" chegou ao primeiro lugar na parada Dance/Club da Billboard, a 41ª faixa dela a conseguir a façanha.
E para os leitores do nosso blog, o novo vídeo exclusivo de Madonna, do seu segundo single,“Girl Gone Wild”, do álbum MDNA. Nas imagens, em preto e branco, Madonna aparece acorrentada (como no vídeo “Express Yourself”, de 1989) enquanto dois homens trocam beijos e carícias entre si (como em “Justify My Love", de 1991). O novo clipe lembra ainda outros vídeos de sua carreira, como “Human Nature”, “Vogue” e “Erotica”“Girl Gone Wild”foi produzida pelo DJ Benny Benassi, que explodiu nas pistas, em 2002, com o hit“Satisfaction”. A turnê mundial de Madonna está programada para começar no dia 29 de maio e deve passar pela América do Sul ainda este ano. Confira o vídeo abaixo e baixe váriosreximes aqui:

imagens: reprodução